sábado, 27 de outubro de 2018

Era uma tarde quente de verão, eu estava quase dormindo em minha mesa quando vi esse senhor chegando na loja. Entrou a passos lentos, ajudado por uma bengala, eu diria que deveria ter uns 70 anos de idade.
 Passou sem dar atenção pelas Harleys e pelas Ducatis, mas as Triumphs fizeram ele parar.
Levantei de minha mesa, tão devagar quanto ele e caminhei em sua direção, apertamos as mãos e antes que eu pudesse me apresentar ele perguntou:
“ Eles ainda fabricam Triumphs?”
Eu: “Sim fabricam, zero KM se você quiser”
Ele riu, tamborilou os dedos no tanque de uma 675 usada que estava entre nós e disse:
“Ah não… eu não piloto mais”
“Mas eu tive várias Triumphs a muito tempo atrás. Acho que a minha primeira foi em 1960.”
 Então ele começou a me contar sobre uma época em que as ruas asfaltadas eram raras e a manutenção das motos era feita no fundo de quintal.
Peças eram difíceis de encontrar e tinham que ser adaptadas de outras motos ou serem fabricadas em tornearias.
Também me contou detalhes das motos que só conhece quem já as desmontou e montou várias vezes.
Definitivamente era o tipo de pessoa que tinha Triumphs não por status, mas porque simplesmente as amava.
Ele ainda me contou que apostava corrida com seus amigos nas estradas de chão ao redor da cidade.
“Não usávamos capacete e nem luvas… só um bando de garotos irresponsáveis.”
 Tentei convencê-lo de que as motos e as ruas mudaram muito, mas a garotada continuava a mesma.
“Pode ser ” ele disse… “Pode ser”…
As vezes ele ficava em silêncio e seus olhos fitavam o logo “Triumph” no tanque da moto. Talvez estivesse tentando lembrar mais histórias. Eu teria ouvido a todas elas com prazer.
Eu o acompanhei até a porta e antes de nos despedirmos, ele olhou para meus pés e viu a bota esquerda, com o couro castigado pelo câmbio da moto. Sorriu um sorriso franco e me perguntou:
 -“ Motoqueiro também?”
Eu: -“Sim”
Apertou forte a minha mão,  me desejou sorte e se foi.
Talvez um dia eu tenha uma Triumph.. Não sei… Mas isso não importa, afinal, de um jeito ou de outro, somos todos motoqueiros.
Aquele aperto de mão é registro de uma irmandade, podemos encontrar nossos “irmãos” em qualquer parte do mundo, em diferentes situações.
Somos motoqueiros e ainda seremos mesmo depois que a canseira do tempo não nos deixe mais subir em uma moto.
http://www.curbsideclassic.com/blog/triumph-the-passion-for-the-machine-and-the-brotherhood-between-bikers/
Texto por Rubens Florentino escrito para a Curb Side Classic

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