quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Motos Brasileiras

Hoje em dia muitas são as marcas de motocicletas, tantas que a grande maioria das pessoas nem sabe quais são. Algumas estão no mercado há mais de 100 anos, outras são recentes e há muitas que nem são mais fabricadas.
Em se tratando de duas rodas há quem desconsidere as que são abaixo das cilindradas com a qual pilotam, sim, alguns podem torcer o nariz, mas o preconceito existe, tanto nos chamados moto clubes quanto no dia a dia entre cidadãos, vizinhos, “amigos” e amantes de duas rodas.
Há os que dizem já terem começado com motos de alta cilindrada, por outro lado tem os que começaram com a bicicleta, passando pelos ciclomotores, motos de baixa cilindrada e chegando em motos de alta potência. Tem os que passam a vida com praticamente a mesma moto, cuidando com um esmero sem igual pois sabem que elas nos ajudam a criar histórias no livro de nossas vidas. Normalmente que começa com motos pequenas dá mais valor às motos seguintes que venha a possuir, talvez justamente por que requererem um cuidado constante, o que para o piloto poder realizar suas jornadas em segurança é essencial .
E aqui vamos falar da história de uma fábrica de ciclomotores e motocicletas brasileira, a L. Herzog Ind. e Com. Ltda, que através do empenho de seu fundador, o Sr Leon Herzog, nas décadas de 50 e 60 produziram desde bicicletas motorizadas à ciclomotores e motos de baixa cilindrada, antes mesmo da chegada das asiáticas Yamaha e Honda.
O Sr Leon Herzog, polonês de origem, ao final da segunda guerra mundial encontrava-se na Alemanha, de onde imigrou para o Brasil já que as coisas pela Europa não andavam muito fáceis e ele havia sobrevivido as pesadas situações da Segunda Guerra na pele literalmente.
Aqui em solo brasileiro contou com o apoio dos irmãos, os quais já haviam imigrado para cá anteriormente e assim  podendo residir, colocou em prática o que melhor sabia fazer, montar e vender bicicletas, já que essa era a atividade exercida pela família na Polônia antes da chegada dos conflitos no final dos anos 30 (1939).
A loja de bicicletas na década de 40.
As coisas foram melhorando e em 1951 montou uma fábrica no bairro do Caju, no Rio de Janeiro, de onde saiu o primeiro modelo de bicicleta motorizada, a Gullivette. Naquela época era muito comum na Europa o uso de motores 2 tempos instalados em bicicletas, por vários motivos que iam desde menor tempo em deslocamentos como distâncias maiores e inspirado nessa “onda” o Sr Leon resolveu montar as primeiras bikes motorizadas em solo tupiniquim.
Foram lançadas as “Gullivettes”, equipadas com motores franceses, os “Lavellette Motul “, modelo AML de 50cc³.
A Gullivette era muito similar à francesa Peugeot da década de 40.
A pequena fábrica operou até 1957, fechando após um desentendimento comercial entre os sócios. Daí em diante o Sr Leon  começaria a juntar esforços para começar a produzir um ciclomotor, indo a feiras de negócios no exterior onde conseguiu os primeiros moldes de um ciclomotor francês que estava fora de linha e importando os motores da República Theca, os quais na época eram da conhecida Jawa.
Somente no final no ano de 1960 é que o primeiro modelo saiu da fábrica, era a chamada “Leonette”, cor vermelha, duas marchas trocadas no manete do punho esquerdo, pedais que eram necessários para o acionamento do motor e que se explicavam muito úteis para transpor subidas íngremes auxiliando na propulsão (hoje em dia você só enrola o cabo né?).
Primeiro modelo lançado no final do ano de 1960.
Linha de montagem em 1961.
Fabricadas no Rio de Janeiro, as Leonettes eram produzidas com motorização 2 tempos, mistura de óleo à gasolina feita previamente pois não dispunham de qualquer tipo de dispositivo que viesse a realizar a mistura internamente no motor. Haviam os primeiros modelos com 50cc³ e 2 marchas, estas acionadas no punho esquerdo, quem já andou com antigas Vespas ou Lambrettas sabe como é; também por último lançaram um modelo com 3 marchas, motorização de 80cc³ e acionamento por quique.
Na época, a marca tcheca de motocicletas Jawa, tinha uma representatividade expressiva no mundo das duas rodas, o que passando credibilidade ao consumidor, foi a escolha para a motorização dos ciclomotores brasileiros.
Leonette  1962.
Pilotar o ciclomotor já era uma aventura desde o momento de acionamento do mesmo, uma vez que era necessária da força do piloto para pedalar, pegar embalo, deixar o descompressor acionado e no tempo certo soltar para então o motor funcionar.
Quem já pilotou este tipo de ciclomotores, já que tivemos em tempos mais recentes as marcas Garelli, Monark, entre outras, sabem que em subidas o piloto participa ativamente com o motor para transpor as inclinações pedalando.
Os anos foram passando com algumas melhorias, o motor tcheco ganhava nova carburação, proporcionando à Leonette incríveis 50 km/h, para um ciclomotor tá ótimo!
As vendas seguiam fortes, a fábrica mudou de lugar para dar conta da demanda e em 1967 investiram em um novo motor Jawa de 50 cilindradas porém com cilindro na horizontal, caixa de marchas agora de três marchas e acionamento no pé e partida por quique (para quem não conhece, é o nome dado ao pedal que acionamos com o pé para partida em motos) dando adeus aos pedais e ainda proporcionando uma melhoria incrível na velocidade: 80km finais.
Ainda em 1967 foram fabricados mais dois modelos: a Leonette Sport e a Leonette Super Sport.
Leonette Super Sport.
Vamos lembrar que na década de 50 e 60 os adolescentes literalmente piravam por duas rodas motorizadas, a legislação permitia que maiores de 15 anos pilotassem sem a exigência de habilitação, isso ajudava a vender os ciclomotores que nem pão quentinho! E não vou nem falar de capacete.
Em grupos eram chamados de “Leonetteiros”…
… e partiam para aventuras nas estradas.
Notem que só haviam 3 “errados” …  eram os de capacete ! Sim, aquela era a época de cabelos e carecas ao vento.
Em 1968 a polícia de trânsito do Rio de Janeiro usava as Leonettes modelo Ideal, então imaginem como o produto era bem aceito pois até o governo comprava.
Patrulhar era preciso.
Tudo ia muito bem, não fosse do outro lado do planeta os soviéticos entrarem em conflito com os tchecos invadindo seu país, isso prejudicou muito as relações comerciais com a Jawa, fornecedora oficial, peças vinham erradas e demoravam para chegar . Para ajudar em 1969 um acidente com um ciclomotor fez com que a legislação mudasse, passando para 18 anos a permissão para pilotar e obviamente somente com habilitação. Só aí houve uma grande queda no comércio dos ciclomotores da Herzog ltda.
Último modelo lançado em 1971, antes do fechamento da fábrica.
No início da década de 70 as orientais Yamaha e Honda chegavam ao país, competição pesada, a Honda chegou a contactar o Sr Leon para uma parceria na fabricação de ciclomotores e motos, as negociações não avançaram pois o idealizador das Leonettes queria manter o mesmo nome, obviamente que os orientais discordaram e fincaram de vez os pés no país.
O Sr Leon Herzog faleceu em 21.01.2013 aos 93 anos  no Rio de Janeiro, deixando um legado importante para a área motociclística do país e para muitos amantes das duas rodas, foi um grande empreendedor.
Seja um ciclomotor, uma moto de baixa potência ou uma grade moto, o que importa é o espírito de andar de moto, o importante é manter o sentimento de amor pelo ato de pilotar motocicletas, o respeito pelo próximo estendido ao trânsito, que inclui prudência e o melhor: aproveitar a liberdade que sua motocicleta proporciona a você levando aonde você planeja ou não, mas conhecendo novos lugares, culturas, pessoas, engrandecendo você como ser humano e como piloto.
“Não importa a moto que você está pilotando, andar de moto é fazer parte da paisagem e afinal, o vento no rosto é o mesmo para todo mundo.”

Fontes: www.oglobo.globo.com   /     www.motoclassicas70.com.br

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