sábado, 13 de outubro de 2018

BALADA DO MOTOQUEIRO

  BALADA  DO  MOTOQUEIRO

Dizem-me os amigos
que não querem que eu morra:
“não andes de moto”.
Mas, ó diletos amigos
que não admitem que eu morra,
eu ando de moto
eu corro  de moto
eu paro de moto
eu disparo de moto
-  e não morro de moto.
Sim, amigos,
eu não morro de moto
nunca pelo capacete
nunca pelas botas
nunca pelo colete
nunca pelo  náilon
nunca pelas luvas
eu não morro de moto
não pelo farol aceso
não pela habilitação
não pelas mãos no guidão
não pelos pés na pedaleira
não pelo freio revisado
nem pela faixa do trânsito
nem pela placa do trânsito
nem pelo guarda do trânsito
nem pela multa do trânsito
nem pelo semáforo do trânsito:
afinal de contas
nunca valeria a pena morrer pelo acessório
não valeria a pena morrer pela técnica
nem valeria a pena morrer pela regra.

Em verdade, amigos,
eu não morro  de moto
porque nela eu varo o vento
que acaricia o sol e as estrelas
porque nela eu varro a poeira
que alvoroça o galo e a coruja
porque nela eu viro a paisagem
que desenha o dia e a noite
porque nela eu desnudo as conchas
que se ocultam entre colchas e coxas.

Eu não morro de moto,
meus queridos amigos,
porque é com ela
que (ultra)passo  a praia
                               a pedra
                               a trilha
                               o morro
                               a rua
e
(insisto persisto e não desisto)
-  de moto eu não morro.

É isso aí, amigos,
É de moto que eu ando
                                 e caio
                                 e corro
                                 e paro
                                 e disparo
                                                   na praia
                                                   na pedra
                                                   no morro
                                                   na rua
-  e não morro.

(Minha moto não é cruz: é cross).

Definitivamente, amigos,
de moto eu não morro
porque a praia que passa
na rota da moto
a pedra que passa
na roda da moto
a trilha que passa
no rush da moto
o morro que passa
no ronco da moto
a rua que passa
na ronda da moto
- transformam-me em pássaro.

(Pássaro não morre: VOA).   

Nenhum comentário:

Postar um comentário